quarta-feira, 29 de abril de 2009

Uma Rosa que morreu de amor

Logo cedo, Rosa passava pelo meu portão, sorridente e muito alegre cumprimentando quem por ela passava Vovó , uma autêntica cuiabana, chegava até a dizer: Essa Rosa, é tão feliz que dá até bom dia a cachorro!. Vovó tinha razão, Rosa era querida pela vizinhança, tinha sempre uma palavra de carinho. Todos os dias, eu a ouvia dizer: “Olá boneca, como vai? Tudo bem? “Cara” de sua mãe....”
Rosa fazia parte do meu cotidiano, desde que “eu me entendera por gente”. Morena, cabelos longos pretos, magra, com camiseta de cores fortes e calça jeans. Lá ia e vinha ela, com seu sorriso, muitas vezes carregando uma sacola de pães ou livros.
Eis que um dia, Rosa não apareceu pela rua. No outro dia também não. Algo teria acontecido com Rosa. O que seria? Morávamos no mesmo bairro. Vovó, sempre informada dos acontecimentos da vizinhança, viera me contar que Rosa estava no hospital. A notícia me surpreendeu e naquele dia eu descobri que por trás daquele sorriso, daquele ir e vir, estava uma mulher muito triste, que escondia em seu olhar, uma dolorida história de amor.
Rosa se apaixonou perdidamente por um homem, com o qual viera a se casar. Professora, Rosa se dedicava ao lar e aos alunos, e levava a sua vida com dignidade. Seu marido, por sua vez, vivia casos fortuitos de amor, que Rosa ignorava e fazia vistas grossas. Até que um dia, seu marido decidira partir. Rosa permitiu que ele fosse, o respeitava tanto que não lhe causara qualquer aborrecimento, mas guardava a esperança de reatar o casamento. Para distrair e amenizar seu sofrimento, Rosa mergulhava suas angústias em copos de pinga, trancada sozinha em sua humilde casa, que ela conseguira após ganhar um dinheirinho no Baú da Felicidade. As paredes de sua casa guardavam o segredo de Rosa: a dor da solidão.
O ex- marido de Rosa se envolveu com uma mulher casada e numa tarde de sábado, fora assassinado no estacionamento do shopping pelo esposo de sua amante. O caso foi parar nos noticiários e Rosa, ah a Rosa, deixou de beber. A dor era tanta que nem mais a bebida amenizava o seu sentimento da perda. Desta vez, sua esperança teria se esvaído, perdida no vento, no tempo. Ele não estava mais ali, não poderia mais reviver seu casamento, sua história. Apesar da distância física, a possibilidade da volta alimentava Rosa, sua vida tinha sentido nos copos vazios, nas peças das roupas esquecidas no fundo armário. Um dia, acreditava Rosa, ele haveria de voltar.
Rosa entristeceu, adoeceu e entrou em coma. Não reagiu mais. E numa tarde de outono, Rosa partira. E a rua ficou sem o sorriso daquela mulher que escondera de todos um sentimento profundo. O bairro ficou sem sua Rosa, que morreu de amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário